Manifesto sem filtro (Vômifesto)
Olhos de coruja fitam os ratos
pratos vazios regulam a fome
abalos sísmicos badalam os sinos
um minuto de sirenes
dois segundos de luto
cinco dias de festas
semana que dura para sempre
computadores orgulhosos de seus filhos
obsolescência programa na tela portátil
capitalismo hereditário herdado de pais adotivos
contatos telefônicos de terceiro mundo
excitantes cinismos provocam prolongadas ereções
o voo solitário do pássaro em meio aos gafanhotos em revoada
quitação parcelada do empréstimo que jamais foi feito
ar rarefeito ao nível do mar
salada de fios e câmeras filmam ladrões em potencial
e-mails à luz de velas lotam a caixa de pandora
espanto debitado diretamente na conta bancária
cartões de crédito e versões atualizadas
contradições contratadas para apontar o norte salvador
trens bala na testa percorrem o presente na velocidade do Rock
os demônios ganham espaço na mídia do pastor
os dois lados da moeda sempre a favor do vento artificial
braços finos reviram o lixo de reis que jogam cara ou coroa
dignidade perdida entre o Chile e o Camboja
nações comandadas por um só terno
etiquetas valem mais que a vida
a rosa dos ventos aponta onde estão as atrocidades
entropia em ritmo contagiante
variáveis de um ciclo imitam o semblante da esfinge desfigurada
sugestões de saída no menu repleto de vácuo
festivais de música silenciosos como um cemitério
o lixo orbita e observa nossos passos
encontros virtuais produtivos a favor da solidão
ditados antigos ganham roupagem paterna
não há ouvidos na cabeça do torpedo
petróleo extraído da paz volátil
entre mortos e feridos a guerra segue o caminho pretendido
todos os maus interesses estão preservados
botões teclas e atalhos desviam o percurso natural
alto consumo de suspiros e gritos
governos abrem licitação para privatizar o ar
o velho mundo redescobre os pés
nômades do século XXI fazem o caminho de volta
universidades abrem os braços e todos abraçam a repetição
papagaios debatem o futuro do planeta
cultura de massa não mata a fome
crianças sobem no salto e caem na armadilha
amor líquido e paixão andarilha
tribos sem cacique multiplicam os calos nas mãos
funcionários do mês demitidos antes da contratação
brinquedos sexuais dividem espaço com cães de aluguel
o inseto de Kafka cava a carne da humanidade
bom humor cultivado entre ervas daninhas
rebeldia plástica é o produto mais vendido do Natal
alfafa bate recorde de vendas para a ceia de Ano-novo
papéis-higiênicos aderem a tecnologia touch screen
os jornais perdem cada vez mais fregueses
sanguessugas fumam charutos ouvindo Choral
a morte estressada decide despachar de casa
polícia inicia investigação aponta o lápis e não acha culpados
leis viciadas assaltam nossa Constituição
o macaco que voltou do espaço ganha o Prêmio Nobel de quebra galhos
jovens acham-se velhos enquanto os velhos morrem de tédio
banda Grunhidos ganha o prêmio de revelação do ano
os músicos dedicam o prêmio ao macaco astronauta
o macaco suicida-se com uma overdose de banana nanica
as cascas que sobraram vão à leilão para alimentar os famintos
chuva ácida e chaves de fenda nas engrenagens sociais
médicos patrocinados anunciam a cura para a dor de cotovelo
bula do viagra em versão eletrônica é o conto de fadas mais lido atualmente
advogados promotores e juízes criam seita de louvor ao umbigo
políticos protestam alegando que o cordão umbilical deveria ser incluído
nesse eterno presente embalado pelo avesso
residentes em um grão de areia coberto por pingos de água
seres sem saber decidem por desumanidade
somos os donos do universo